quarta-feira, outubro 06, 2004

Aqui. Hoje.

Já somos o esquecimento que seremos.
A poeira elementar que nos ignora
e que foi o ruivo Adão e que é agora
todos os homens e que não veremos.
Já somos na tumba as duas datas
do princípio e do término, o esquife,
a obscena corrupção e a mortalha,
os ritos da morte e as elegias.
Não sou o insensato que se aferra
ao mágico sonido de teu nome:
penso com esperança naquele homem
que não saberá que fui sobre a Terra.
Embaixo do indiferente azul do céu
esta meditação é um consolo.

[Jorge Luis Borges]

2 comentários:

Anônimo disse...

Borges é tudo!
Ah, e esqueci de assinar o comment do post anterior...
http://moacircaetano.blog.uol.com.br

Anônimo disse...

Hello Marpessa,
I found in your blog Borges' poetry that starts with "ja somos o esquecimento que seremos"...I was wondering if you can tell me in which Borges' book did you find the poem?

Thank you so much!!

Maria
mbospina@yahoo.com