sábado, outubro 16, 2004

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Você está perpetuamente gastando sua energia no ato de equilibrar-se. É dominado por uma espécie de vertigem espiritual, cambaleia na beira, fica com os cabelos em pé, não pode acreditar que por baixo de seus pés exista um abismo imensurável. Isso acontece devido a excesso de entusiasmo, devido a um desejo apaixonado de abraçar pessoas, de mostrar-lhes seu amor. Quanto mais você se estende em direção ao mundo, mais o mundo recua. Ninguém quer amor verdadeiro, ódio verdadeiro. Ninguém quer que você ponha a mão em suas sagradas entranhas – isso é só para o padre na hora do sacrifício. Enquanto você viver, enquanto o sangue ainda estiver quente, tem de fingir que não existe sangue, que não existe esqueleto por baixo da cobertura de carne. Não pise na grama! Esse é o lema pelo qual as pessoas vivem.

Se continuar esse equilíbrio à beira do abismo por bastante tempo, você se tornará muito hábil; seja qual for o lado que o empurrem, sempre se endireitará. Estando em constante forma, você adquire uma alegria feroz, uma alegria antinatural, poderia eu dizer. Só existem hoje no mundo dois povos que compreendem o sentimento desta declaração: os judeus e os chineses. Não fazendo parte de nenhum deles, você se vê em situação estranha. Está sempre rindo no momento errado; é considerado cruel e sem coração, quando na realidade é apenas duro e durável. Mas se ri quando os outros riem e chora quando os outros choram, precisa estar preparado para morrer como eles morrem e viver como eles vivem. Isto significa estar certo e receber o pior ao mesmo tempo. Significa estar morto quando se está vivo e vivo só quando está morto.

[Henry Miller in Trópico de Capricórnio]

2 comentários:

Anônimo disse...

Equilíbrio
E u
q i
í
l b
r o
i

O meu já se foi há muito tempo!

Anônimo disse...

Equilíbrio
E_u_______
_q_i______
_____í____
____l_b___
_______r_o
________i_

O meu já se foi há muito tempo!
(Agora deu certo!)

http://moacircaetano.blog.uol.com.br