terça-feira, novembro 16, 2004

mais fragmentos encontrados num HD. provavelmente eu não estava num dia muito bom quando escrevi isso.

A lua brilha sem saber que estamos olhando para ela. Fica lá, redonda, cheia e alaranjada, como se verão fosse. É inverno, nove horas de uma noite qualquer. Pouco importa: todas são iguais. Pode-se ouvir os cães que não cessam de latir e ganir, pois em todas as cidades existem os cães que latem e ganem uns aos outros todo o tempo. É difícil descobrir um canto silencioso no mundo, com todos estes cães.

Os humanos, por sua vez, seguem o fluxo anormal de suas existências. Nada sabem, nada saberão. Alguém disse que muitos só vêm ao mundo para servir de esterco, e isso deve ser verdade. Esterco e reprodução, guardando certa semelhança com o ciclo de vida dos vermes que saem da barriga dos cães. Com isso, fecha-se um anel que fervilha, passando por cima da terra bem devagar.

É triste, essa lua. Triste porque solitária; triste porque iluminando o que não desejamos ver. Logo abaixo dela, tudo está em aparente paz. Dentro de cada casa, uma aparente harmonia germinando no seio de famílias aparentes. E cada um, cada indivíduo, gemendo para si mesmo em eterno desconsolo, nem sempre perceptível. Gemendo e lamentando aquela dor que acomete a todos os que vivem, mas a maioria não se dá conta e tenta reparti-la em um bilhão de pequenas dores, menores, mais suportáveis...

(Um sapo, quando jogado na água fervente, saltará de imediato, para fugir. Quando colocado na água fria que vai se esquentando aos poucos, morrerá porque a água vai ferver sem que ele se dê conta. Acostumou-se; acostumemo-nos, pois, para não nos queimarmos.)

[Marpessa]

Um comentário:

Nora Borges disse...

Por ter conhecimento da histório do sapo,acreditei no que a luz da lua me mostrava...e fugi.