quinta-feira, novembro 25, 2004

Uma receita e dez mandamentos para um domingo

Primeiro: olhar dentro de uma bolinha de gude (verde ou azul) e enxergar o macrocosmo, mantendo sempre a funda intuição holística de que tanto faz estar lá dentro ou cá fora.

Segundo: deixar parados todos os relógios da casa, para provocar desentendimentos entre o tempo, os mecanismos e o Tempo.

Terceiro: fingir que deseja coisas concretas, como um prato de comida ou uma música.

Quarto: andar pelas ruas para pensar “que bom, é domingo” ou “desgraçadamente, é domingo”.

Quinto: pensar com alívio em todas as tragédias que poderiam ter acontecido e que não aconteceram, tragédias que adoram acontecer aos domingos.

Sexto: se for inverno, abrir todas as janelas; se for verão, fechá-las.

Sétimo: quebrar alguma coisa, um objeto qualquer (o domingo é o melhor dia para isso, porque há a certeza de que a coisa quebrada se reconstituirá magicamente na segunda-feira).

Oitavo: lembrar-se de que o domingo é tão primeiro quanto último, o que nos transtornará tanto que, ao abrirmos os olhos, será quarta ou quinta.

Nono: tomar três banhos, porque é imperioso conversar consigo mesmo sob o chuveiro.

Décimo: negar, negar até o fim.

E uma receita: sirva quente, leve ao forno por 30 minutos, mexa bem, adicione por fim o creme de leite coloque primeiro a farinha separe três claras pense no que quer fazer mas faça ao contrário, entende?

[Marpessa]

5 comentários:

Andréa Muroni disse...

Tinha que vir você, infernar um dia mais que infernal.
Não me diga que ainda espera agradecimentos?

Anônimo disse...

O melhor de tudo seria fazer de cada dia um domingo...

Anônimo disse...

O melhor de tudo seria fazer de cada dia um domingo...

http://moacircaetano.blog.uol.com.br/

Neysi disse...

Um beijo...e um bom domingo!
Neysi

Anônimo disse...

Injustiçado e negligenciado Domingo. Perdendo somente para a segunda-feira o topo dos dias detestáveis, esse mártir do ócio nem mais reclama: tantos contrastes, preguiçosos devaneios e passeios com cães (os gatos, então, o ignoram por completo). Mas aqui, ela vem com seus caracteres palidamente acinzentados num fundo noite (como estrelas opacas num céu de megalópole) e nos instrui a sobrevivê-lo. Com suas lânguidas asas, ela pousa em minhas retinas e me ensina a querer escrever melhor. Se for pra fazer o contrário do que eu penso em querer fazer, me afastaria dela - se eu pudesse...

L .