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O jogo da amarelinha joga-se com uma pequena pedra que é preciso empurrar com a ponta do sapato. Ingredientes: uma calçada, uma pedrinha, um sapato e um belo desenho feito com giz, preferivelmente colorido. No alto, fica o Céu, embaixo a Terra, é muito difícil chegar com a pedrinha ao Céu, quase sempre se calcula mal e a pedra sai do desenho. Pouco a pouco, porém, vai-se adquirindo a habilidade necessária para salvar as diferentes casinhas (caracol, retângulo, fantasia, esta pouco usada) e um dia se aprende a sair da Terra e levar a pedrinha até o Céu, até entrar no Céu (...); o pior é que, justamente nesse momento, quando ainda quase ninguém aprendeu a levar a pedra até o Céu, a infância acaba de repente e se chega nos romances, na angústia do divino foguete, na especulação de outro Céu ao qual também é necessário aprender a chegar. E, por se ter saído da infância (...), esquece-se que, para alcançar o Céu, é preciso ter, como ingredientes, uma pedrinha e a ponta de um sapato.
[Julio Cortázar, capítulo 36 de Rayuela]
Um comentário:
Ai, como Cortazar é bonitinho com seus diminutivos...
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