quarta-feira, julho 27, 2005

Da inutilidade de chutar as borboletas

Não há quem me convença do contrário: chutar borboletas é inútil. Primeiro, porque é impossível, uma vez que a cada arremesso de perna e pé para cima, qualquer borboleta minimamente medrosa (e todas o são) tratará de voar para bem longe e talvez nunca mais voltar. E nós queremos que elas voltem, não é certo? Por isso, a fuga da borboleta torna o chute idiota o suficiente para constranger seu autor.

Em segundo lugar, o objetivo ao se tentar chutar uma borboleta não será alcançado nem mesmo se o chutador amarrar a borboleta bem firme a um barbante longo e a outra ponta deste a um galho de árvore baixo. Porque a borboleta será chutada, mas deixará então de ser uma borboleta para ser uma borboleta-presa-a-um-barbante, o que a tornará menos borboleta; o objetivo, então, se perde por completo.


Terceiro lugar: borboletas não têm memória. Que lhes importa ganharem chutes, se não se recordarão deles depois, com lágrimas em todos os olhos e um profundo rancor? Sentem medo, mas não guardam tristezas consigo.


E por fim, com chutes ou não-chutes, elas estão por aí, sempre. Que se há de fazer? Ainda riem-se de nós.

[Marpessa]

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