A idiota
Amparada pela mãe, a idiota subiu no ônibus. Essa mãe gorda e simplória, morena de doer, dava o braço à idiota. Com dificuldades, subiram, e ao subirem a idiota soltou um gemido e riu, escancarando bem sua boca. Seus dentes eram bastante proeminentes, dando à sua figura um quê assustador. Era humana, a idiota, porém comportava-se como um bicho saído de uma caverna. Olhava para todos os lados e, mesmo sentando-se, não parava de movimentar-se. A mãe conversava em voz alta com passageiros que a conheciam, enquanto a filha tremia e babava a intervalos irregulares. Cheirava mal; um odor azedo, envenenado, de saliva antiga, desprendia-se de suas roupas feias e pobres. A mãe, de vez em quando e sem abandonar a conversação, enxugava a boca da filha com uma fralda amarelada e endurecida de sujeira. Também de quando em quando, a idiota sacudia todo o seu corpo magro em estranhos espasmos, e cada um destes espasmos vinha acompanhado de um jorro brilhante e espesso de baba, como o vômito dos bebês. Então por que sorri, a idiota? Por que sorri, a mãe? O ônibus prosseguiu, e também a vida prosseguiu, uns dentes escancarados agitando-se na janela empoeirada do coletivo.
[Marpessa]
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