Roxo
Atirada a um canto frio e solitário está Virginia, a comer baratas como se castanhas fossem. A bela e louca Virginia veste branco, mas pensa que é o encantador vestido roxo com o qual estava naquela noite fugitiva, de triste lembrança. Tléc!, mais uma pequena barata é estourada entre os incisivos podres de Virginia, a bela e alheada Virginia que gostava de orquídeas e de uvas, antes de voltar-se inteiramente para os insetos. Por uma abertura mínima em sua cela Virginia vê e sente o final do sol. As luzes são alaranjadas, mesmo Virginia as compreendendo roxas. O vento das seis horas sopra junto com o sol e arrepia a pele de Virginia. Por todo o corpo, que não traz aos olhos mais que um laivo dos antigos encantos, esparramam-se impiedosas marcas – Virginia belisca-se o tempo todo. Ela ama a roxidão dos edemas. Tléc!, entre os dentes feios. Usa também a língua para sentir o mundo e seus sabores. Como sempre sorri, Virginia usa batom roxo, de modo que para ela tudo é desta enigmática tonalidade. Incluindo a morte, os fetos, o quadro da Pediatria.
[Marpessa]
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